Liquidação extrajudicial não autoriza instituição a levantar valores depositados em cumprimento de sentença

Liquidação extrajudicial não autoriza instituição a levantar valores depositados em cumprimento de sentença

A superveniência da liquidação extrajudicial de uma instituição não a autoriza a levantar valores que tenha depositado em juízo a título de cumprimento de sentença, já que a decretação da liquidação não irradia efeitos desconstitutivos sobre pagamentos licitamente efetuados.

A conclusão foi da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao negar provimento ao recurso de uma seguradora que pretendia reaver os valores depositados em cumprimento de sentença.

A seguradora argumentou que, em razão da liquidação extrajudicial, os valores da condenação deveriam entrar no concurso geral de credores, sob pena de se conferir ao vencedor da ação tratamento diferenciado em relação aos demais credores.

Segundo a relatora do recurso especial, ministra Nancy Andrighi, é preciso considerar que a parte que foi vencedora na ação de indenização contra a seguradora não figurava mais como credora no momento da decretação da liquidação extrajudicial. Dessa forma, não se trata de tratamento diferenciado.

“A relação creditícia existente entre as partes em litígio foi extinta a partir do momento em que a obrigação pecuniária constituída pelo comando sentencial foi adimplida pela recorrente, que efetuou voluntariamente o depósito da quantia devida”, explicou a ministra.

Sem previsão

Nancy Andrighi ressaltou que não há no ordenamento jurídico nacional nenhuma previsão de que a decretação dos regimes executivos concursais de liquidação extrajudicial, recuperação judicial ou falência possa desconstituir pagamentos pretéritos realizados de forma lícita, já que a deflagração de tais regimes “possui efeitos ex nunc, não retroagindo para regular atos que lhes sejam anteriores”.

A relatora apontou que, diferentemente do que sustentou a seguradora, o artigo 74 do Decreto 60.459/1967 e o artigo 98 do Decreto-Lei 73/1966 não disciplinam o que deve ocorrer com os valores depositados voluntariamente pela empresa liquidanda como pagamento decorrente de decisão desfavorável em ação reparatória.

O caso analisado, segundo Nancy Andrighi, “não trata de penhora, arresto ou de qualquer outra medida determinada pelo juízo que se destina à apreensão ou à reserva de bens para garantia de futura execução, únicas hipóteses fáticas contempladas nas normas em questão”.

Também não é o caso, segundo a relatora, de incidência na norma do artigo 126 da Lei de Falência e Recuperação de Empresas, já que as sociedades seguradoras não se submetem aos ditames dessa lei.

Nancy Andrighi lembrou ainda que, no julgamento do AREsp 1.294.374, a Terceira Turma decidiu que a suspensão de ações e execuções decorrente da decretação de liquidação extrajudicial de sociedade submetida ao regime da Lei 6.024/1974 – como no caso analisado – não tem como consequência lógica a desconstituição da penhora já aperfeiçoada.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.801.030 - RS (2018/0166903-0)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : NOBRE SEGURADORA DO BRASIL S.A - EM LIQUIDACAO
ADVOGADO : BRUNO SILVA NAVEGA E OUTRO(S) - RJ118948
RECORRIDO : DEA LUZ RAMOS
ADVOGADOS : RODRIGO CORRÊA DA CUNHA E OUTRO(S) - RS056547
RAMIRO CORRÊA DA CUNHA - RS062264
RECORRIDO : VIAÇÃO NOVA INTEGRAÇÃO LTDA
ADVOGADO : GABRIEL SANTOS ALBERTTI - PR044655
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO CIVIL. CONTRATO DE
TRANSPORTE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
GRATUIDADE DA JUSTIÇA. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADO.
SÚMULA 283/STF. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF.
LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. RELAÇÃO CREDITÍCIA EXTINTA.
ADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO. INAUGURAÇÃO DE REGIME EXECUTIVO
CONCURSAL. EFEITOS EX NUNC. 1. Ação distribuída em 6/6/2008. Recurso especial interposto em
26/10/2017. Autos conclusos à Relatora em 18/7/2018.
2. O propósito recursal, além de verificar se houve negativa de prestação
jurisdicional, é definir (i) se a recorrente faz jus ao benefício da gratuidade
da justiça e (ii) se é possível o levantamento, em razão da superveniência de
sua liquidação extrajudicial, de valores depositados em juízo a título de
cumprimento de obrigação declarada em sentença.
3. Devidamente analisadas e discutidas as questões deduzidas pelas partes,
não há que se cogitar de negativa de prestação jurisdicional, ainda que o
resultado do julgamento contrarie os interesses da recorrente.
4. A existência de fundamento do acórdão recorrido não impugnado – quando suficiente para a manutenção de suas conclusões – impede a
apreciação do recurso especial.
5. O conteúdo normativo dos arts. 74, § 3º, do Decreto 60.459/67 e 98, §
3º, do Decreto-lei 73/66, apontados como violados nas razões do recurso
especial, não dá suporte à tese jurídica exposta, o que atrai a incidência do
óbice previsto na Súmula 284/STF.
6. Hipótese concreta em que a relação creditícia existente entre as partes
em litígio foi extinta a partir do momento em que a obrigação pecuniária
constituída pelo comando sentencial foi adimplida pela recorrente, que
efetuou voluntariamente o depósito da quantia devida.
7. Não há, no ordenamento jurídico pátrio, dispositivo legal a autorizar que
a superveniência da decretação da liquidação extrajudicial, da recuperação
judicial ou da falência possa irradiar efeito desconstitutivo sobre

pagamentos pretéritos licitamente efetuados.
8. A deflagração de regimes executivos concursais possui efeitos ex nunc, não
retroagindo para regular atos que lhe sejam anteriores.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte do recurso
especial e, nesta parte, negar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília (DF), 02 de abril de 2019(Data do Julgamento)
MINISTRA NANCY ANDRIGHI
Relatora

Esta notícia foi publicada originalmente em um site oficial (STJ - Superior Tribunal de Justiça) e não reflete, necessariamente, a opinião do DireitoNet. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte. Consulte sempre um advogado.
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