Jornalista de editora ganha horas extras além da jornada de cinco horas
Jornalista que exerce funções
típicas da profissão tem direito a jornada especial de cinco horas,
independentemente de a empresa dedicar-se a atividade jornalística. A
partir desse entendimento, a Sétima Turma do Tribunal Superior do
Trabalho acolheu recurso de ex-empregada da Editora FTD S.A e
reconheceu o direito à jornalista.
A ex-funcionária trabalhou cerca de dez anos na FTD S.A, editora de
livros didáticos, realizando atividades de jornalista na assessoria de
imprensa, onde executava serviços técnicos como apuração de
informações, entrevistas, redação, interpretação, correção e
coordenação de matérias para publicação. A jornada de trabalho era de
segunda a sexta-feira, das 7h30 às 14h15, mas se estendia até as 21h,
em média três vezes por semana.
Após ser demitida, em outubro de 2000, a jornalista ajuizou
reclamação trabalhista na 49ª Vara do Trabalho de São Paulo (SP),
pedindo, entre outras verbas, o pagamento das horas extras excedentes
da quinta hora diária e da vigésima quinta semanal. A jornada especial
para jornalistas profissionais está prevista no artigo 303 da CLT. A
sentença de primeiro grau negou o pedido.
Não satisfeita, a jornalista entrou com recurso no Tribunal
Regional do Trabalho da 2ª Região (SP), reiterando a pretensão. O
TRT/SP rejeitou novamente o pedido, alegando que o direito à jornada de
cinco horas somente seria devido quando a atividade fosse exercida em
empresas jornalísticas, conforme o Decreto-Lei nº 972/1969, e não em
editoras de livros didáticos, como no caso.
Contudo, no julgamento do recurso de revista, a Primeira Turma do
TST trouxe interpretação diversa da legislação. O ministro relator,
Lelio Bentes Corrêa, em seu voto, observa que era fato incontroverso
que a ex-funcionária desempenhava funções de jornalista, conforme
expressamente consignado no acórdão do TRT/SP. “Nessas circunstâncias,
não há como recusar à jornalista o direito à jornada especial
estabelecida em lei, ainda que a empresa se dedique a atividade fim
diversa”. O ministro destacou outras decisões do Tribunal que se
orientam no sentido de que o que norteia a as obrigações é a atividade
desenvolvida pelo profissional, sendo irrelevante o ramo da empresa. A
tese foi acolhida por unanimidade pela Primeira Turma, que determinou o
retorno dos autos ao TRT para reexaminar os pedidos.