OAB e MEC discutem proliferação dos cursos de Direito
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato,
vai propor ao ministro da Educação, Tarso Genro, com quem se reúne na
próxima quinta-feira (12/02), às 10h, que a opinião da entidade quanto
à criação de novos cursos jurídicos tenha "caráter vinculante" e não
meramente opinativo, como ocorre hoje. Busato quer que os pareceres da
OAB sobre a abertura de cursos de Direito sejam levados em conta, de
forma normativa, nos processos de autorização de funcionamento desses
cursos pelo Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação
(MEC).
"Vamos propor que a opinião da Ordem quanto à criação de novos cursos
seja vinculante. Hoje os nossos pareceres são apenas opinativos. Se nos
últimos três anos nossos pareceres tivessem caráter vinculante,
teríamos hoje 200 cursos de Direito a menos em funcionamento no País",
disse Busato. Ele observou que dos 222 cursos de jurídicos autorizados
pelo Conselho Nacional de Educação no último triênio, a OAB foi
favorável à instalação de apenas 19, após pesquisas e avaliações.
Na audiência com Tarso Genro, o presidente da OAB vai reivindicar
também providências urgentes para a melhoria da qualidade do ensino
jurídico no Brasil. Roberto Busato avalia que está havendo "descaso" do
governo federal em relação ao ensino nas universidades federais,
enquanto o ensino privado superior tem sido privilegiado e se inclina
cada vez mais pela busca do lucro. Ele levará ao ministro da Educação,
que também é advogado, as preocupações da entidade expressas no "OAB
Recomenda", uma lista de 60 cursos de Direito brasileiros que receberam
selo de qualidade da entidade, entre 215 cursos avaliados.
Busato pretende acrescentar ainda ao ministro a posição unânime do
Conselho Federal da OAB que, em sua primeira reunião sob a nova gestão,
esta semana, repudiou veementemente as críticas de algumas instituições
privadas de ensino às conclusões do "OAB Recomenda". Ele ponderou que o
levantamento da OAB sobre os cursos de Direito, divulgado em janeiro,
tem por objetivo contribuir para o aperfeiçoamento do ensino jurídico
no País e não o de ser um "ranking" de melhores cursos.
O "OAB Recomenda" - observou Busato, ao contestar as críticas de
instituições privadas de ensino que não estão entre as recomendadas no
estudo - é resultado de levantamento minucioso elaborado por
profissional qualificado, doutor em Estatística, sob a orientação da
Comissão de Ensino Jurídico da entidade, composta por conceituados
professores de Direito de diversas universidades do País.
A metodologia para a composição dos dados leva em consideração o
desempenho dos estudantes no período de 1999 a 2002 no Exame Nacional
de Cursos, o "Provão", e no Exame de Ordem. A publicação é divulgada ao
final de cada gestão pelo Conselho Federal da OAB como cumprimento aos
artigos 44, inciso I, e 54, XV, da Lei nº 8.906/1994, dispositivos que
atribuem ao Conselho da OAB a função de colaborar com o aperfeiçoamento
dos cursos jurídicos.
Roberto Busato lembra que o Conselho Federal da entidade, ao repelir as
críticas infundadas de instituições particulares, "salientou com
propriedade que o 'OAB Recomenda' não tem outra finalidade senão a de
destacar, com base em critérios objetivos, os cursos que apresentaram
melhor rendimento no universo dos avaliados e mereceram receber o selo
de qualidade da Ordem".
Conforme a manifestação do Conselho Federal da OAB, a publicação não
tem como intenção desaprovar ou desaconselhar cursos de Direito. Apenas
realça aqueles que apresentaram melhor desempenho e que podem ser
tomados como referência de qualidade em ensino por estudantes e
educadores. A expectativa da entidade dos advogados é de que, a cada
edição do "OAB Recomenda", um número maior de cursos sejam indicados. À
medida que isso aconteça, estará sendo obtido o aperfeiçoamento dos
cursos jurídicos.
Nesse contexto, os conselheiros da entidade assinalaram que o "OAB
Recomenda", como qualquer publicação, está sujeita a críticas. "Mas a
Ordem dos Advogados do Brasil repele veementemente qualquer crítica que
tenha como objetivo atingir a honra de sua Comissão de Ensino Jurídico,
principalmente por parte de instituições de ensino que desconhecem a
carreira profissional dos advogados que a compõem", sustentou o
Conselho Federal.