Assédio moral

Assédio moral

Definição de assédio moral; características e estratégias do agressor; sobre as vítimas do assédio; as doenças que podem advir do assédio moral; tipos de assédio moral.

Introdução

Podemos dizer que assédio moral é a agressão feita por uma determinada pessoa em relação a outra que, por ser repetitiva várias vezes, acaba por ferir o bem estar da pessoa agredida, atingindo seu bem estar físico ou psíquico. Tal situação pode ser externada através de um gesto, uma palavra ou atitude, causando vergonha e humilhação aquele que sofre o assédio.

A escritora francesa Marie-France Hirigoyen, em seu livro Assédio Moral – A violência perversa do cotidiano, define assédio de forma muito clara, dizendo: “por assédio em um local de trabalho temos que entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, por em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”.

O assédio moral no trabalho, ocorre quando, em uma situação de trabalho, o funcionário é exposto às situações descritas nos parágrafos acima. Essa situação no trabalho, vem sendo abordada de forma mais adequada somente nos dias atuais, em função de toda a evolução da humanidade, porém tal situação teve início juntamente com o início do trabalho, levando-se em consideração que empregados sempre sofreram ameaças e humilhações de seus superiores.

Posto isso, em razão da grande necessidade de emprego que sempre assolou a humanidade, principalmente entre aqueles com baixa instrução, o funcionário sempre teve grande tolerância com situações de assédio moral sofridas no trabalho, calando-se para que não fosse substituído no emprego. Nos últimos tempos, com os grandes avanços da justiça trabalhista e os empregados tendo cada vez maior liberdade e menor medo para exigir seus direitos, a situação de assédio moral no trabalho foi sendo exposta juntamente com a exigibilidade dos direitos dos trabalhadores. Assim, não mais era tolerada como uma “situação de praxe do emprego”, mas sim como uma situação errada e prejudicial ao funcionário e ao ambiente de trabalho, que é o que realmente acontece.

Características e Estratégias do Agressor

O agressor é aquela pessoa que, após uma sensação de ódio, a utiliza para exercer seu poder sobre pessoas que lhe são subalternas, manipulando-as de acordo com sua própria vontade. Uma característica da personalidade do agressor é o seu lado narcisista, que muitas vezes o domina, fazendo com que o agressor acredite ser superior e moralista, quando comparado às outras pessoas. Tal situação demonstra um grande conflito interno do agressor, pois ao agredir ele estará demonstrando que não possui as características que deseja demonstrar através da agressão, procurando então através do assédio satisfazer suas carências.

Além do lado narcisista, também são características da personalidade do agressor:

  • acredita ser mais importante do que realmente é, levando-o a acreditar na sua especialidade e singularidade;

  • deixa-se levar por fantasias de sucesso ilimitado e poder absoluto;

  • precisa ser constantemente admirado;

  • explora o outro em suas relações interpessoais, pois acredita tudo lhe é devido;

  • inveja situações alheias;

  • tem atitudes e comportamentos arrogantes.

Existem várias formas utilizadas pelo agressor para a escolha e a efetiva agressão de suas vítimas, são elas:

  • escolher a vítima e isolar do grupo;

  • impedir a vítima de se expressar, não explicando o porquê;

  • fragilizar, ridicularizar, inferiorizar e menosprezar a vítima em frente aos pares;

  • culpabiliza-la ou responsabiliza-la publicamente, podendo os comentários à sua incapacidade invadir seu espaço familiar;

  • desestabiliza-la emocionalmente e profissionalmente, fazendo com que a vítima perca sua autoconfiança e seu interesse pelo trabalho;

Em casos de extremo assédio moral, podemos ver até mesmo a “destruição da vítima”, que ocorre após uma situação muito grave de assédio, desenvolvendo na vítima o desencadeamento ou o agravamento de doenças já existentes. Tal situação pode levar a vítima ao isolamento familiar e dos amigos, levando-a, muitas vezes, ao uso do álcool e de outras drogas. Também ocorrem casos extremo de assédio quando a vítima é forçada a pedir demissão ou é demitida por insubordinação.

As Vítimas

No caso de assédio moral no trabalho, os principais alvos são, normalmente, aqueles funcionários que demonstram excelente qualidade de serviço sendo, comumente, perseguidos por aqueles que não apresentam a mesma qualidade, mostrando aí a característica da inveja, colocada no tópico anterior.

As vítimas normalmente são pessoas que confrontam os pensamentos de seu agressor uma primeira vez, assim despertam neles sua ira e passando a ser seu principal alvo. A palavra vítima remete a uma pessoa frágil que necessita de cuidados, porém muitas vezes a situação é inversa, pois a pessoa apenas se torna uma vítima do agressor por, muitas vezes, ter confrontado suas idéias, mostrando-se assim uma pessoa de idéias próprias e personalidade forte.

As doenças que podem advir do assédio moral

O assédio moral, apesar de ser na maioria das vezes uma agressão psíquica, comumente resulta em doenças físicas às suas vítimas. As principais dentre essas doenças são: palpitação, falta de ar, fadiga, problemas digestivos, crises de choro, além de manifestações psíquicas, como: ansiedade, sentimento de inutilidade, depressão, sede de vingança, idéia de suicídio, etc.

Em casos de assédio moral no trabalho, identificado o assédio e manifestadas as doenças colocadas acima, muitas vezes é indicado ao trabalhador que tire uma licença, passando alguns dias em casa, para que possa se recuperar da melhor forma, esses porém, com medo de represália, escolhem manter-se no serviço, pois temem por seus empregos. Assim, prioriza-se o trabalho ao invés da saúde, mesmo que essa seja mais importante que o primeiro, pois sem saúde o trabalhador não poderá cumprir suas obrigações normalmente.

Tipos de Assédio Moral no Trabalho

Podemos classificar o assédio moral no trabalho em dois tipos: o horizontal e o vertical.

O assédio moral horizontal, é aquele que ocorre de colega para colega, ou seja, entre pessoas que possuem o mesmo nível hierárquico, tais situações ocorrem em razão de grande inveja e competitividade. Atualmente, como os funcionários vêm sendo cada vez mais exigidos em seus empregos, onde exigi-se cada vez maior escolaridade, eficiência, competência e grande produtividade, jogando sempre para o funcionário a responsabilidade por seu emprego. Assim, essa situação de competitividade é cada vez mais estimulada pelas empresas, que acreditam gerar assim, funcionários mais competentes. Essa situação pode até fazer com que os funcionários se dediquem realmente mais aos seus empregos, porém também estimula a competitividade, gerando a inveja e, assim, aumentando, possivelmente, de forma significativa o assédio moral no trabalho.

Já o assédio moral vertical, é aquele que ocorre entre pessoas de níveis hierárquicos diversos. O mais comum deles é aquele em que um subordinado é agredido por seu superior, porém também existe aquele onde um superior é agredido por seu subordinado. O primeiro caso é mais comum, pois normalmente o superior abusa de seu poder sobre seus subordinados, fazendo esses acreditarem que tal situação é comum, e não uma coisa anormal e errada (como realmente é). Os subalternos também se submetem a situações de assédio em razão do grande medo que sentem de serem demitidos, pois seus superiores exigem cada vez maior produtividade, diminuindo os custos.

As duas formas de assédio colocadas acima (vertical e horizontal), apesar de ter sido usado como “pano de fundo” o trabalho e a relação empregado-empregador, também ocorre em vários outros locais fora do ambiente de trabalho. Podemos vê-lo claramente em escolas, tanto na relação entre alunos, na relação entre professores e alunos e na relação entre diretores e professores, além da própria família, que pode demonstrar tais relações tanto entre os irmãos como nas relações entre pais e filhos. Nesse último caso, se os pais agirem de forma coatora com seus filhos, utilizando-se de métodos escusos para educa-los, poderão dar o exemplo errado, formando futuros agressores.

Conclusão

Atualmente, podemos enxergar claramente que o assédio moral é algo totalmente errado, que agride o íntimo do ser humano. Porém, ao mesmo tempo que é algo tão negativo da conduta do ser, é uma situação que está incrustada na nossa sociedade.

Digo incrustada, pois a criança que vê seu pai coagir e humilhar sua mãe, ao perceber que o pai alcança o que desejava, pode vir a acreditar que este é um bom método de alcançar seus objetivos, tornando-se um adolescente que virá a assediar moralmente seus colegas escolares e, mais futuramente, tratará de forma errônea seus subalternos e também seus colegas de trabalho, acreditando estar fazendo o melhor para si próprio, buscando atingir seus objetivos.

É possível dizer que aí está o maior erro daquele que comete o assédio moral, pois ao cometê-lo o coator não estará prejudicando apenas aquele que é assediado, mas também a si mesmo.

Quando falamos do assédio moral no trabalho, vemos que está situação está evoluindo significativamente na última década, quando passou-se a levar em grande consideração não só o lado físico dos funcionários, mas também o psicológico, tendo em vista que um depende diretamente do outro. Essa situação pode ser vista no grande número de reclamações trabalhistas que hoje em dia são propostas de forma concomitante a ação de danos morais, tendo a Justiça do Trabalho competência para julgar tal ação.

Podemos concluir que a melhor forma de encararmos o assédio moral é, além de educarmos as crianças para que estas não acreditem na coação como forma de alcançarem seus objetivos, enfrentar o coator, para que este não mais consiga fazer de suas vítimas reféns de suas vontades, passando a conviver em sociedade de forma harmônica e respeitosa.

Fontes bibliográficas

Hirigoyen, Marie France. Assédio Moral - A violência perversa no cotidiano. 5 ed. Editora Bertrand Brasil, 2002.

www.assediomoral.com.br www.assediomoral.org

Sobre o(a) autor(a)
Natália Droichi de Almeida
Advogada, formada pela Faculdade de Direito de Sorocaba (FADI). Estuda para concursos da Magistratura do Trabalho e Defensoria Pública do Estado.
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