A falência do Estado brasileiro

A falência do Estado brasileiro

De forma irreverente, um cidadão brasileiro, nos tempos futuros, declara a falência, ou melhor, o falecimento do Estado Democrático de Direito Brasileiro.

Em algum tempo futuro não muito distante... Com muito pesar, venho em rede nacional, o qual tem repercussões internacionais, declarar que, infelizmente, a República Federativa do Brasil está falida/falecida! Pois o povo não teve direito a nada, tampouco o direito de serem ouvidos.

Todas nossas instituições haviam sido corrompidas, tudo girava em torno do dinheiro, da ambição, do Poder, do egoísmo e do egocentrismo.

Causa Mortis do Estado Brasileiro – Laudo:

Um vírus foi acoplado em Brasília, local onde pulsava o sangue para o restante das células vitais do Estado. Tentaram constantemente encontrar a vacina ou um soro para a cura, porém, essa doença deixou raízes para o “resto do corpo” comprometendo toda a sua estrutura. Essas raízes foram aparecendo, e o Estado nem sequer “quis ir ao médico” para verificar aquelas pequenas feridas de tratamento fácil e simplificado. Com essa omissão, tais lesões foram aumentando, aumentando, da mesma forma que se dá “chuchu na cerca”, foi impregnando no corpo do Estado em progressão geométrica, um aqui, dois lá, quatro acolá, e assim por diante... Qualquer pessoa em sã consciência conseguiria detectar que se não fosse feito o tratamento a tempo, essa mácula poderia comprometer ainda mais a vida do Estado.

Esse vírus foi o responsável pela a ineficiência da autodefesa do “corpo” do Estado brasileiro, assim, começaram a surgir doenças, como a ineficácia das instituições públicas de ensino, sobre o qual há relatos de que existiram professores mal preparados, tanto com a didática quanto com as condições de ensino (em alguns casos até com o próprio conteúdo-conhecimento do profissional), ou seja, a infraestrutura nunca existiu, vital para o funcionamento das instituições escolares públicas. Infelizmente os diretores, supervisores, secretários de educação, nada fizeram em favor dos alunos, e ainda, em alguns casos, pioram ainda mais a vida deles. Por que será? Por quê? Assim, o braço direito da sociedade foi aniquilado com essa doença.

O transporte, que dó! Alastrou o vírus de uma forma horripilante, buracos e mais buracos surgiram nas ruas e estradas públicas, essas deficiências brotaram como as flores na alta temporada da primavera, pena que não sejam estas as protagonistas. A solução do Estado foi vender as “suas pernas”, que na época já usava muletas para andar.

Obs.: É interessante, apesar de termos aprendido desde a nossa infância que o transporte mais barato é o ferroviário e, a seguir, o aquático, por que o Estado insistiu naquelas rodovias? Claro que é muito importante tê-las também, mas, devido aos seus altos custos, utilizá-la como meio principal de transporte de mercadorias foi um erro fatal, além da "canivetada" da tributação que arrancavam os “dentes” do cidadãos diariamente. Esse Estado era muito teimoso! E ainda deixava a sua gente banguela! Teimoso e estúpido!

O sistema de saúde nem visto foi, não há testemunhas para relatar se realmente existiu ou não, mas, ao que tudo indica, parece que não, pois não sobrou ninguém para contar. É claro! O Estado nasceu sem uma pequena parcela do cérebro ou ele era meio bobo mesmo? Difícil saber, mas que foi inexistente o sistema de saúde, isso foi sem dúvida alguma. Não foram encontrados quaisquer vestígios a respeito no corpo do defunto.

O crime organizado também surgiu de forma violenta e acelerada e muito organizada, é claro. Essa enfermidade já existia havia muito tempo, devido a omissão do Estado ao não “tomar o remédio certo”. Os efeitos testemunhados foram devastadores, atingiu bem no peito da sociedade. Vestígios de pólvora, desgraça, entre outros elementos hediondos foram encontrados no coração.

Mas teve uma parte salva do corpo do Estado: o bolso. Este ninguém mexe, ninguém toca, somente alguns desprezíveis representantes do povo que tinham essa legitimidade em meter a mão nele!

Opa, mas por que eu estou sentindo uma mão no meu bolso agora? Mesmo depois de morto! Tira a mão daí! O quê? Mais imposto! Assim não pode, assim não dá!

E quem não se lembra daquela época em que o até então Presidente da República, Luiz Inácio "Lula" da Silva, ajudou os "hermanos", como a Bolívia, e meses depois, levou um "pé nos glúteos" (alusão a Revista Veja [1]) a respeito do gás natural. Puxa vida! Se nem uma empresa do próprio Estado (como a Petrobras) não era protegida, imaginem como ficaram as empresas privadas brasileiras no exterior! Esse Estado era muito passivo e vagabundo!

Com o sistema carcerário falido, o Estado nessa época estava também muito “jururu” ou deprimido, como preferir, pois tantos problemas, tantas soluções ineficazes, produziam vários efeitos colaterais afetando diretamente a sociedade e, consequentemente, o convívio social, tornado isto algo insustentável, realmente ruim, praticamente insuportável!

Não se pode esquecer, também, da natureza, esta que não envolvia apenas o Estado brasileiro, agora falecido, envolve todos os Estados, inclusive e principalmente aqueles Unidos, que devastam e devastaram muito a nossa “mãe-Terra”. Coitadinha dessa judiada mãe, tem filhos muito desobedientes e mal educados, talvez seja a falta de eficiência do braço direito (de educação) de todas as nações que tenham contribuído para tanto. Não se ensina a uma criança a bater na própria mãe, depois que crescer ela ficará ruim! Do jeito que estão as coisas pelo mundo, parece que nem com a “supernanny”[2] seria possível resolver os problemas dessas crianças ingratas. Assim, será inevitável o desastre ecológico. Exemplo disso: o Estado brasileiro falecido, o seu pulmão não conseguiu “respirar” nem com máquina, devida tanta poluição do ar, rios, lagos, fontes, represas, mares etc.

Para complicar ainda mais a situação do Estado, o vírus inoculado tinha algo semelhante a formigas em seu DNA, ela se alastrava como um câncer sem nenhum tratamento, uma espécie não tão rara no mundo, mas letal para o Estado brasileiro. Assim, foi despejado esse maldito DNA nas instituições dos mais diversos setores do Poder. O quê!? Qual espécie era essa? Ah! Essa é fácil! A CORRUPÇÃO! Claro! Naquela época tudo envolvia dinheiro, Poder, egoísmo, inclusive o próprio povo ficava pensando nessas coisas, ao menos em uma boa parte dele (com suas raras exceções). Se estava fácil pegar um pouquinho aqui, por que não? Era o famoso orgulho nacional: o sonhado "jeitinho brasileiro". Tudo dava jeito! Pode fazer TUDO ERRADO que o "jeitinho brasileiro" resolvia.

Neste “laudo” será impossível descrever todas as doenças que o falecido Estado continha, mas é possível apontar a sua principal doença, que é a responsável por todos os outros males causados pelo inoculado vírus, que foi a já mencionada maldita CORRUPÇÃO. Constata-se, portanto, que o vírus é a própria corrupção, já que ela estava sugando todos os recursos saudáveis e os transformando em pó, cerceando os investimentos essenciais às áreas vitais e não vitais do corpo já frágil da República Federativa do Brasil. Era inevitável a sua morte – uma questão de tempo.

Esse vírus-imoral-antiético foi tão cruel que conseguiu atingir todas as esferas possíveis e imagináveis, desde o setor público até os meios de comunicação responsáveis em revelar os infortúnios (haviam muitos falsos moralistas, era nojento!), até mesmo no âmbito privado estava presente essa maldade. Falando em “privada”, é “melhor puxar a descarga”! Mamãe Terra agradece mais um dejeto não tratado nos rios!

Considerações finais sobre o Laudo

Agora é o momento de nos arrependermos e chorar, mas com muito remorso mesmo, pois nada fizemos para reerguer o Estado brasileiro a tempo. A democracia, com os diversos escândalos e corrupção, não teve nenhuma oportunidade de contra-atacar o vírus, fora brutalmente aniquilada sem chance de defesa. Foi uma morte horrível, lenta, dolorida e cruel. A democracia transformou-se em demagogia!

A boa notícia é que a República Federativa do Brasil poderá ressuscitar, mas isso é muito complicado, já que terá que recomeçar da "estaca zero". Por que os governantes daquela época não fizeram nada? Naquela época em que era tudo mais fácil de se resolver (os problemas estavam apenas no início)! Por que esperar a calamidade pública para agir? Isso é algo que nós nunca iremos entender. Vamos tentar reconstruir o Brasil, pois aqueles vagabundos dos nossos antepassados não merecem nem ser lembrados pela história do Brasil, salvo para ensinar a nós e às nossas futuras gerações de "como não ser" ou de "como não agir", aí sim, eles serão um bom exemplo.

É isso remanescentes brasileiros, vamos reconstruir esse País que um dia foi mesmo um verdadeiro orgulho. Vamos fazer acontecer um futuro promissor – Ordem e Progresso – honrando a nossa bandeira, vamos ressuscitar o Estado Brasileiro, seja ele em qualquer sistema jurídico, político, qualquer um! Mas com o compromisso que seja um País solidário e justo para todos que aqui habitam. Vamos fazer uma nova constituinte implementando aquela antiga Constituição de 1988, mas em vez de tratarmos ela como “faixada”, vamos realmente implementá-la, aplicá-la, respeitá-la. Vamos, assim, fazer do Brasil uma nação que dê novamente orgulho e satisfação, tentando fazer jus ao nosso direito de pisar nessa maravilhosa terra, esta que reconstruiremos juntos, com muito esforço e dedicação, para nunca, nunca mais voltarmos aquele absurdo que foi no passado. VAMOS fazer acontecer!

Com essa ressurreição, vamos estufar o peito e dizer: somos brasileiros! Mas não somente de quatro em quatro anos, quando ocorre a Copa do Mundo de Futebol. Não iremos mais repetir os mesmos erros bestas, e caso erremos, não insistiremos nele, como aqueles que não tinham a dignidade de ter a nacionalidade brasileira.

O Brasil de 2006

Corrupção no Poder Público; escândalos do mensalão, mensalinho; dança da pizza; falta de proteção das empresas nacionais no exterior, relações internacionais ineficazes – fracassos constantes; desigualdade; falta, ineficiência e insuficiência na educação, na saúde, de cordialidade e de paz social; salários mínimos miseráveis, condições precárias ao trabalhador; criminalidade intensa, impunidade; crises na segurança pública, na política, no Judiciário, no Legislativo, no Executivo, no transporte, na habitação, energia, na fé do povo etc; calamidades moral e ética, além do contínuo desrespeito ao meio ambiente: desmatamento da Amazônia e região, o não tratamento do esgoto (Rio Tietê em São Paulo é um esgoto a céu aberto, um absurdo!), efeito estufa, e assim por diante (sem contar com aqueles que ainda estão por vir).

Conclusão

Como Renato Russo [3] já dizia: "venha que o que vem é perfeição" [4], referindo-se no caso de que se não houvesse todos os males da sociedade haveria o Estado ideal, o mundo ideal. Tais males podem e devem ser solucionados, mas nos dias atuais, é possível sentir que esse pensamento era mesmo uma utopia do ilustre poeta e cantor.

Precisamos eliminar a corrupção e respeitar a nossa Constituição de uma vez por todas, tornando, de fato, o Brasil um país de verdade. Não podemos deixar a solução para depois, para os nossos descendentes, não podemos fazer essa injustiça com eles, eles não têm culpa. Somos nós quem temos! Somente nós!

Notas

[1] REVISTA VEJA - edição 1955 de 10 de maio de 2006 - Editora Abril.

[2] "Reality show" em que tem como proposta ajudar uma família que está com dificuldades em educar seu(s) filho(s). Mais sobre, disponível em - http://www.sbt.com.br/supernanny/. Acessado em 5 de junho de 2006.

[3] Cantor e compositor brasileiro o qual teve grande sucesso com a banda Legião Urbana no final dos anos 80 e início dos anos 90.

[4] Trecho da música "Perfeição", da banda Legião Urbana de Renato Russo - Letra da música disponível em – http://legiao-urbana.letras.terra.com.br/letras/46967/. Acessado em 8 de junho de 2006.

Sobre o(a) autor(a)
Lucas Tadeu Lourencette
Jurista, possui bacharelado em Ciências Jurídicas pela Universidade de Sorocaba (2007). Parceiro do DireitoNet desde 2006.
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